sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Música, simplesmente


Simplesmente sensacional o novo livro de Alex Ross, "Escuta Só". Ross é crítico de música, desde 1996, na revista New Yorker e sua especialidade é "música clássica" - termo que ele confessa odiar na primeira fase do livro ("eu odeio a música clássica: não a coisa, mas o nome"). Contudo, "Escuta Só" é um apanhado de textos longos publicados na New Yorker sobre vários tópicos musicais. Há textos sobre música clássica na China, uma releitura das biografias de Mozart, textos sobre Verdi e John Cage. Mas há também muita música popular: Ross escreveu dois "perfis", a partir de um acompanhamento e entrevistas em turnês, de Bjork e Radiohead. Por eles ficamos sabendo, por exemplo, da relação intríseca de Bjork com a música coral (quem já ouviu Medulla, o disco da cantora de 2004, sabe desta relação) e do peso desta na cultura islandesa (Ross comenta que se cada 5 entre 10 jovens islandeses já tocaram ou tocam numa banda de rock, 9 entre 10 islandeses cantam ou já cantaram num coral); ou da dinâmica de trabalho do Radiohead (uma das minhas paixões musicais, diga-se).
Mas o texto mais bacana, penso, é o capítulo 2: "Chacona, lamento, walking blues: linhas de baixo na história da música". Ross convida o leitor a perceber o desenvolvimento, na música ocidental (e sua recorrência em outras culturas) do uso da linha de baixo em notas cromáticas descendentes, como tópica relativa à melancolia. Para isto ele faz uso de uma série de exemplos musicais (disponíveis para o leitor no blog www.therestisnoise.com/listentothis) que vão desde chaconas do século XVI, como Un sarao de la chacona, de Juan Arañes até a introdução de Dazed and Confused, do Led Zeppellin - umas linhas de baixo mais famosas da história do rock - passando por exemplos de peças de Bach, Mozart, o romantismo do século XIX e temas do blues no século XX.
Além de "Escuta Só", outro livro de Ross está disponível para o público brasileiro: "O Resto é ruído: escutando o século XX", sobre música contemporânea. Ambos saíram pela Companhia das Letras. Vale a pena fuçar.

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